domingo, 24 de março de 2019

Síndrome de Ayn Rand

O Brasil está sofrendo em estado terminal do que eu chamo de Síndrome de Rand. 
Eu tive oficina mecânica, funilaria e pintura durante algum tempo. Gosto muito de automóveis, e minha primeira formação foi como técnico em mecânica. Com 14 anos de idade eu comecei a trabalhar raspando sapatas de freios e varrendo chão de oficina. Estudava de manhã, trabalhava na oficina à tarde, estudava piano à noite.
Alguns anos depois fui trabalhar em uma oficina especializada em motores Diesel, mas uma oficina PADRÃO - tudo era feito no micrômetro e no súbito, todas as tolerâncias medidas e devidamente observadas. Em 1979 acompanhei a montagem de mais de 100 motores a Diesel.
Em 1981 me formei mecânico, mesmo ano em que terminei o Curso de Piloto Privado de aviões.
Quando abri minha primeira oficina, eu já tinha meia dúzia de diplomas em mecânica, e alguns anos de experiência. Mas como dono de oficina, precisei de mão-de-obra. Lá na primeira metade da década de 80, a mão-de-obra em oficinas era formada 100% por pessoas sem NENHUMA QUALIFICAÇÃO.
Continuei estudando, como aliás continuo até hoje. Me especializei em regulagem eletrônica de motores, com cursos da SUN, e diversos cursos das fábricas de carburadores da época.
Só quem tinha nível para trabalhar comigo era o pessoal que eu mesmo formei. Meu irmão Reinaldo Adasz trabalhou comigo naquela época, éramos os melhores do nosso bairro, apesar de nem de perto sermos os maiores nem os mais antigos.
Com a minha experiência em mecânica, eu olho e vejo os merdas que trabalham seis meses em uma boca de porco, acham que são melhores que o patrão (e talvez sejam mesmo), vão e abrem sua própria oficina, e conseguem enganar toda a população. E como enganam, enganam MUITO. Em parte porque não tem a menor ideia do que estão fazendo, mas também porque a única forma de ganhar dinheiro, fazendo o que fazem, é enganando as pessoas.
Aqui em Araraquara é onde mais sofro com isso. Em 2000 levei uma Cherokee Laredo para fazer orçamento das buchas da suspensão dianteira, quando cheguei na oficina haviam desmontado meu carro sem minha autorização, e me deram um orçamento de quase cinco mil reais. Coloquei o carro em um guincho, levei para uma concessionária em São Paulo que me fez o serviço com peças originais por R$ 700,00. Os R$ 4.300,00 a mais é o que um araraquarense paga para ser enganado por alguém que não sabe trabalhar. E olha que estou falando da maior oficina da cidade.
Mais recentemente tive problemas com juntas homocinéticas de outro carro. Fui em diversas oficinas, a maioria delas não quis mexer porque meu carro é alemão (mas tem o mesmo conjunto mecânico de um carro médio nacional), mas de qualquer forma, ninguém conseguiu me dizer o defeito. Levei o carro para São Paulo em um guincho, chegou lá era apenas o conjunto das homocinéticas e um coxim do motor.
Eu fico pensando em quanto pagamos para morar no Brasil. Nosso custo é altíssimo. Não são apenas os impostos absurdos pagos a fundo perdido. É todo um conjunto de custos ocultos que arcamos, e um dos principais custos advém da total falta de capacidade de nossos profissionais.
Estou muito puto da vida porque mandei um computador com pane na controladora SATA, eu DISSE PRO FILHO DA PUTA que era pane de controladora, e o cara me devolveu o computador trocando um HD (que talvez tenha mesmo queimado, devido à pane). Caramba, não tentei economizar nada, mandei na MAIOR loja de computadores de Araraquara, e tenho um serviço de bosta.
Vou consertar o carro, ninguém sabe fazer nada, porque ninguém teve nenhuma formação - os "profissionais" se formam na base da tentativa e erro, com achismos.
Mando consertar o computador, uma porcaria que só tem meia dúzia de peças, e o camarada não consegue identificar um problema que deve enfrentar pelo menos 20 vezes por dia.
A mesma coisa que acontece comigo, acontece com centenas de outras pessoas, que por não terem conhecimento técnico, acabam aceitando prejuízos daqui, dali, de acolá.
E todo este dinheiro é um dinheiro desperdiçado jogado fora, tirado da cadeia produtiva e utilizado exclusivamente para sustentar seres humanos socialmente inúteis. Porque o mal profissional é isto, é uma forma de parasita da sociedade. E estes custos, pagamos pelo prazer de morar no Brasil, um país onde todo mundo diz que não existem guerras, mas onde temos mais chances de sermos mortos no meio da rua do que em qualquer guerra atual do planeta.
Estou bem cansado de tudo isso.

P.S. 1: Texto original de 2015;
P.S. 2: Finalmente encontrei uma oficina decente em Araraquara, com pessoal capacitado e honesto. 
P.S. 3: De uma forma geral o problema continua, são exércitos de maus profissionais em qualquer área que se observe. 

Nenhum comentário: