terça-feira, 18 de setembro de 2012

A arma é civilização

Major L. Caudill – Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA (reserva) As pessoas só possuem duas maneiras de lidar umas com as outras: pela razão ou pela força. Se você quer que eu faça algo para você, você tem a opção de me convencer via argumentos ou me obrigar a me submeter à sua vontade pela força. Todas as interações humanas recaem em uma dessas duas categorias, sem exceções. Razão ou força, só isso. Em uma sociedade realmente moral e civilizada, as pessoas somente interagem pela persuasão. A força não tem lugar como método válido de interação social e a única coisa que remove a força da equação é uma arma de fogo (de uso pessoal), por mais paradoxal que isso possa parecer. Quando eu porto uma arma, você não pode lidar comigo pela força. Você precisa usar a razão para tentar me persuadir, porque eu possuo uma maneira de anular suas ameaças ou uso da Força. A arma de fogo é o único instrumento que coloca em pé de igualdade uma mulher de 50 Kg e um assaltante de 105 Kg; um aposentado de 75 anos e um marginal de 19, e um único indivíduo contra um carro cheio de bêbados com bastões de baseball. A arma de fogo remove a disparidade de força física, tamanho ou número entre atacantes em potencial e alguém se defendendo. Há muitas pessoas que consideram a arma de fogo como a causa do desequilíbrio de forças. São essas pessoas que pensam que seríamos mais civilizados se todas as armas de fogo fossem removidas da sociedade, porque uma arma de fogo deixaria o trabalho de um assaltante (armado) mais fácil. Isso, obviamente, somente é verdade se a maioria das vítimas em potencial do assaltante estiver desarmada, seja por opção, seja em virtude de leis – isso não tem validade alguma se a maioria das potenciais vítimas estiver armada. Quem advoga pelo banimento das armas de fogo opta automaticamente pelo governo do Jovem, do Forte e dos em maior número, e isso é o exato oposto de uma sociedade civilizada. Um marginal, mesmo armado, só consegue ser bem sucedido em uma sociedade onde o Estado lhe garantiu o monopólio da força. Há também o argumento de que as armas de fogo transformam em letais confrontos que de outra maneira apenas resultariam em ferimentos. Esse argumento é falacioso sob diversos aspectos. Sem armas envolvidas, os confrontos são sempre vencidos pelos fisicamente superiores, infligindo ferimentos seríssimos sobre os vencidos. Quem pensa que os punhos, bastões, porretes e pedras não constituem força letal, estão assistindo muita TV, onde as pessoas são espancadas e sofrem no máximo um pequeno corte no lábio. O fato de que as armas aumentam a letalidade dos confrontos só funciona em favor do defensor mais fraco, não do atacante mais forte. Se ambos estão armados, o campo está nivelado. A arma de fogo é o único instrumento que é igualmente letal nas mãos de um octogenário quanto de um halterofilista. Elas simplesmente não funcionariam como equalizador de Forças se não fossem igualmente letais e facilmente empregáveis. Quando eu porto uma arma, eu não o faço porque estou procurando encrenca, mas por que espero ser deixado em paz. A arma na minha cintura significa que eu não posso ser forçado, somente persuadido. Eu não porto porque tenho medo, mas porque ela me permite não ter medo. Ela não limita as ações daqueles que iriam interagir comigo pela razão, somente daqueles que pretenderiam fazê-lo pela força. Ela remove a força da equação. E é por isso que portar uma arma é um ato civilizado. Major L. Caudill USMC (Reformado) Então, a maior civilização é onde todos os cidadãos estão igualmente armados e só podem ser persuadidos, nunca forçados.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Pequena História do Desaramamento

Era uma vez uma pequena e aconchegante fazendinha, onde se criavam lindas ovelhas. O dono desta fazenda tinha fama de ser justo, e de aplicar todas as regras exatamente como a lei prescrevia, de forma que o fazendeiro, todas as ovelhas e alguns cães pastores que cuidavam das mesmas sempre viveram em perfeita harmonia. Acontece que ao redor da fazenda existia uma matilha de lobos, que de vez em quando atravessavam a cerca de arame farpado, e sorrateiramente capturavam uma ou outra ovelha. Eles se alimentavam exclusivamente daquelas ovelhas, mas com o tempo começaram a se revoltar com os constantes ferimentos advindos da cerca de arame farpado. Outro grande problema sempre foram os cães pastores, que em batalhas acirradas, já haviam matado alguns lobos. As ovelhas sempre foram ovelhas: Elas conviviam muito bem entre si, com os cães e com o fazendeiro. Quando os lobos atacavam elas apenas fugiam como podiam, e logo depois que uma delas era assassinada por algum lobo, todas as outras ficavam muito felizes por não ter sido a ovelha da vez. E assim seguiam a sua vida. Os lobos, astutos, tiveram a primeira iniciativa: Se organizaram, para começar a eliminar os cães e a cerca de arame farpado. Furtivamente, faziam rápidas incursões na fazenda, sempre se machucando na cerca de arame farpado, mas assim que viam que algum dos cães estava isolado dos outros, o matavam impiedosamente. Até que um dia um dos cães passeava pelo pasto, e vendo um lobo sozinho, foi lá e matou o lobo. Os outros lobos imediatamente se reuniram, foram até o fazendeiro, e mostraram que o cão havia matado deliberadamente um lobo inocente, de forma cruel e injustificada. Ante as provas, o fazendeiro não teve outra alternativa senão executar o cão assassino de lobos. Assim os lobos começaram pela primeira vez a vencer os cães, utilizando-se da força do fazendeiro. Em outros incidentes, os cães haviam mordido uma ou outra ovelha que se afastava do aprisco, pois sabiam que uma ovelha sozinha estava mais propensa a ser capturada pelos lobos, além do que, os cães precisavam que as ovelhas estivessem sob seu olhar e cuidado, para poder protegê-las. Mas as ovelhas reclamaram formalmente para o fazendeiro, que puniu os cães pela sua atitude. Como tanto os lobos quanto as ovelhas reclamavam dos cães, o fazendeiro criou uma corregedoria canina, e começou a monitorar todos os atos violentos dos cães. Qualquer cão que por qualquer motivo se envolvesse em ação violenta, ainda que fosse para defender uma ovelha inocente, ficava imediatamente afastado do serviço, passaria por entrevistas com psicólogos e psiquiatras, e treinamento de técnicas não violentas de defesa. Com isto os lobos conseguiram neutralizar a defesa canina da fazenda – os cães passaram a ter medo de agir em defesa da fazenda. Lógico que a lei proibia que os lobos matassem ovelhas, mas os lobos jamais se importaram com a lei, antes se incomodaram. Com o passar do tempo, a lei passou a ser apenas a lei, e os lobos desenvolveram muitas técnicas para violá-la sem consequências. Mas ainda restava a cerca de arame farpado. Aquela cerca terrível, que tanto os machucava. Não era justo que ao buscar o seu alimento, todos voltassem feridos. Eles sabiam que não podiam ir até o fazendeiro, e simplesmente pedir que se retirasse a cerca – não havia justificativa para isto. Foi então que um primo distante dos lobos voltou de viagem, ele havia feito treinamento de guerrilha e de ideologia em outras paragens, patrocinado por órgãos internacionais de proteção dos lobos. Este lobo intelectual explicou a coisa de forma simples: O fazendeiro vendia a lã e o couro das ovelhas, e a cerca de arame farpado machucava as ovelhas, danificando o seu couro, fazendo diminuir o seu preço. Então eles deviam começar imediatamente uma campanha de desaramamento, no aparente objetivo de proteger os interesses do fazendeiro e das próprias ovelhas. E foi assim que se iniciou a campanha. De um lado os lobos começaram a mostrar para as ovelhas todos os terríveis danos e estragos feitos no passado, todas as vezes em que alguma ovelha colidiu com a cerca de arame farpado. Não faltaram fotos, vídeos, depoimentos dramáticos de pobres ovelhinhas enganchadas na cerca de arame, sangrando, e até morrendo por causa da famigerada cerca. Do outro lado, alguns poucos cães tentavam mostrar para as ovelhas que aquela cerca era uma das últimas defesas contra os ataques dos lobos – tentavam, de forma débil, mostrar que os verdadeiros inimigos eram os lobos, que a sua ideologia era uma falácia, e que seu verdadeiro objetivo era ter controle sobre as ovelhas... Mas estes poucos cães dissidentes eram logo ridicularizados em público pelo lobo intelectual, que os acusava de serem de uma Direita Retrógrada e Capitalista. Diziam que o único objetivo dos cães era o de preservar a riqueza do fazendeiro, e manter o domínio sobre as ovelhas (ora, as ovelhas sempre serão dominadas, mas este é uma outra história...). O fazendeiro, por sua vez, estava fascinado com a desenvoltura dos lobos. O lobo intelectual o seduzira com suas falácias, e ele se sentia mais importante do que nunca, pois afinal, agora aparentemente tinha domínio até mesmo sobre os próprios lobos, que o aconselhavam sobre todos os assuntos. As ovelhas, bem, as ovelhas acreditavam na não violência. Elas PRATICAVAM a não violência. Lógico, isto não impedia ninguém de matá-las, afinal, todos nesta história sempre se alimentaram das ovelhas. Mas isto não era importante para as ovelhas, porque afinal de contas, nenhuma ovelha se preocupava com o que acontecia com a sua vizinha ou amiga, o que importava era que ela estava ali, feliz, bem alimentada, com água fresca e um bom lugar para dormir. Um dia, quando os lobos acreditaram que haviam dominado o pensamento das ovelhas, colocaram o desaramamento em votação, mas de forma inacreditável, 60% das ovelhas votaram contra, pois apesar do medo do arame farpado, ainda acreditaram que a cerca estava lá para protegê-las. Mas o estrago já estava feito: As regras para se colocar cercas de arame ficaram tão rígidas, o acesso para compra e posse de arame ficou tão complicado, que a simples posse de um pouco de arame sem um monte de documentos podia levar alguém para o abate. E as ovelhas passaram a ter mais medo do arame do que dos lobos. E foi assim que os lobos conseguiram, perfeitamente dentro da lei, melhorar a sua qualidade de vida, e se abastecer melhor e com menos riscos daquilo que mais presam em suas vidas: Ovelhas. Hoje os lobos estão no comando, eles são os patrões do fazendeiro, dos cães, e das ovelhas. E continuam a campanha do desaramamento.