sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Visitando Billy the Kid

Eu tenho dificuldade para explicar para alguns amigos que já fui algumas vezes em Las Vegas e nunca apostei nem uma moedinha... Mas para quem chegou lá pela primeira vez para ir em uma Shot Show e fazer cursos de aprimoramento em tiro e defesa, aquilo é a Disneylândia dos atiradores.

Poder atirar com as melhores armas do mundo com um preço justo na munição é uma experiência e tanto. Não é à toa que a maioria das armas que importamos aqui vem dos EUA – não é só o valor, mas também a diversidade que nos fascina.

Ver a forma como os gringos pensam sua relação com as armas de fogo também é uma experiência e tanto. Em janeiro de 2017 fiz um curso para obter o porte oculto para o Estado de Nevada poucos dias após o registro de armas ser abolido naquele Estado. O nosso instrutor, um policial da cidade de Las Vegas, explicou que a polícia não precisa de um pedaço de papel identificar uma arma – a arma é auto-identificável. Outra coisa que foi dita é que o registro identifica o dono da arma mas não quem estava com ela ou quem praticou um crime com seu uso. Uma curiosidade: Todos chamam o Porte Oculto de “CCW” ou Concealed Carry Weapon, mas o documento na verdade se chama CCP, Concealed Carry Permit. É realmente uma cultura diferente, com pensamentos que nem se parecem com os nossos. Para eles a arma coldreada de forma aparente (Open Carry) não significa uma ameaça a menos que a pessoa saque a arma. Em contrapartida eles consideram o porte oculto (dissimulado) como uma ameaça, pois em tal condição não é possível se identificar uma ameaça. Por este motivo o Open Carry é free, livre, liberado. REALMENTE liberado em Nevada. Se uma pessoa maior de idade estiver portando uma arma (sem registro, porque não existe mais registro de armas) um policial não tem o direito de abordar esta pessoa devido a estar armado, exceto se houver indício da prática de algum crime.

Até eu que sonho com um Brasil livre e democrático sou obrigado a confessar que me senti bem estranho ao ver cidadãos portando suas armas abertamente na Strip ou dentro de um restaurante de beira de estrada. Não estamos acostumados com liberdade e cidadania.

Mas eu precisava ir para Houston-TX, e aproveitei para fazer outra coisa que amo – entrar num carro e rodar, rodar, rodar... E como é bom rodar com a gasolina a US$ 2,19 o galão.

Em Maio de 2018 eu fiz isso, saí de Las Vegas com um Ford Escape, passei em Albuquerque para visitar locais onde foi filmada a série “Breaking Bad” e continuei em direção ao Texas. No meio da Route 66 vi uma plaquinha indicando o Museu “Billy the Kid”. Me lembrei das muitas horas que passei com meu saudoso pai assistindo westerns, e parei para ver no GPS qual seria o desvio necessário. Se eu não ficasse muito tempo no museu o tempo daria tranquilo. Lá fui eu.

A primeira coisa que surpreende um brasileiro é um belo canhão que está na frente do museu, na beira da estrada. Um choque de civilidade, uma peça belíssima exposta na beira da estrada sem nenhum vestígio de vandalismo. Fiquei imaginando se alguém do DFPC visse isso – iriam querer que o canhão fosse guardado imediatamente em alguma sala forte ou coisa parecida...


Mas chega de enrolar – estou aqui para falar do personagem Billy the Kid, seu museu na cidade de Fort Sumner e o seu mausoléu.

Billy the Kid nasceu William Bonney em 02 de Novembro de 1860. Seu pai morreu quando ele ainda era pequeno e sua mãe casou novamente com William Antrim, quando a família se mudou para Silver City no Novo México. Sua mãe faleceu em 16 de Setembro de 1874. Com 15 anos de idade Billy foi preso pela primeira vez, por roubar um cesto de roupas. Ele fugiu e saiu de Silver City. Aproximadamente um ano depois ele matou um armeiro e voltou para o Novo México onde após algum tempo começou a ficar famoso como criminoso. Com 21 anos de idade ele foi sentenciado à forca mas fugiu da prisão de Lincoln County e foi morar em Fort Sumner, onde foi morto pelo delegado Pat Garret em julho de 1881.

Mas a história não é tão simples.

Em 1876 um imigrante inglês chamado John Tunstall comprou grandes áreas de terra em Lincoln County, Novo México, uma região onde todo os contratos de fornecimento de carne para o governo dos EUA era controlado por um cartel auto-denominado ‘The House’. Tunstall não se intimidou, investiu pesado em gado e passou também a vender para o governo ‘passando por cima’ do cartel, que passou a ameaçá-lo. Devido às ameaças o fazendeiro contratou um jovem capanga - William Bonne - para fazer a sua segurança. Em pouco tempo o relacionamento entre Tunstall e William ficou como o de um pai com seu filho, então quando William viu seu tutor ser assassinado a sangue frio por um bando enviado pelo delegado de Lincoln County. William iniciou uma trilha sangrenta de vingança que entrou para a história dos EUA como LCW (Lincoln County War, ou Guerra do Condado de Lincoln) finalizada três anos após Billy the Kid ter sido morto pelo Sheriff de Lincoln County, Pat Garret. Garret matou Billy the Kid em Fort Sumner, cidade onde está localizada o museu e sua tumba.



Foi no desenrolar da LCW que William ficou nacionalmente famoso como Billy the Kid, pela sua audácia e grande habilidade no uso de armas de fogo. Nesta guerra entre o cartel e suas vítimas Billy the Kid foi o único preso (mas alçou uma fuga espetacular, que só aumentou sua fama). Ninguém foi processado pelas inúmeras mortes decorrentes do conflito e finalmente o cartel prevaleceu, o que criou uma aura de heroísmo sobre a figura de Billy the Kid.

O Museu Billy the Kid é particular, criado em 1953 por Ed Sweet e mantido hoje por Donald Sweet e sua família – sempre muito simpáticos, por sinal. São aproximadamente 60 mil itens que compreendem desde bens pessoais de Billy the Kid como seu rifle Winchester 1873 e itens de vestuário até peças originais do quarto onde ele foi morto pelo delegado.

O destaque fica sem dúvidas para a conservação do rifle.

O museu reúne muitas peças originais da época, muitas armas, munições e tem uma gift shop anexa. Infelizmente não foi possível se abrir os vidros para se fotografar os itens, o que prejudicou ainda mais a qualidade das fotos que tirei com meu próprio celular apenas como registro da viagem. Ainda assim valeu a pena por poder ver materiais originais da época, com registro de enforcamentos públicos e outras coisas que vimos apenas nos filmes de faroeste. O museu também foi feliz em mostrar várias facetas de Billy the Kid, desde o bandido até o herói que lutou praticamente sozinho contra um poderoso cartel.

Não muito distante do museu fica o cemitério onde estão sepultados Billy the Kid e seus dois companheiros Tom O’Folliard e Charlie Bowdre, que faleceram juntos. O lugar é considerado ponto histórico nacional e fica próximo do próprio Fort Sumner, que dá nome à cidade. Respeitoso que sou em todos os cemitérios que já adentrei, confesso que senti uma energia diferente visitando a tumba de Billy the Kid e só quando já estava redigindo estas letras é que, ao ampliar uma das fotos, vi que existiam munições e moedas na lápide dos garotos. Uma curiosidade é que apesar de existir uma lápide com o nome dos três amigos, na verdade os três estão sepultados em diferentes lugares daquele cemitério, sendo impossível se determinar a exata localização.

Não quero fazer juízo de valor sobre Billy the Kid. Mas respeito e admiro quem preservou a memória daquela parte da história do seu país. Bem que podíamos aprender a fazer um pouco mais disso também por aqui em nosso querido Brasil.




Duas receitas

 Receita para o sucesso fácil:

1 - Dizer o que as pessoas querem ouvir, não aquilo que elas precisam;
2 - Prometer facilidades e soluções fáceis;
3 - Fluir como a água, acomodando-se e aceitando tudo o que acontece, não importam as consequências;
4 - Mentir ou omitir qualquer coisa que seja desfavorável.
Receita para se manter digno e honrado:
1 - Se não puder falar a verdade com todas as letras, você está conversando com a pessoa errada;
2 - Se o caminho certo é mais longo, percorra um passo de cada vez, mas não se desvie;
3 - Se tiver um obstáculo, vença-o ou destrua-o, assim o caminho será melhor para quem vier após ti;
4 - Mostre sempre todas as faces do problema: nem tudo o que é bom é perfeito, mas nem tudo o que é ruim é inaproveitável.
Não se trata de escolher o que se faz, mas sim quem você É.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

Aquele que não luta pelos seus Direitos não merece sequer os que já tem

O Brasil, depois de décadas sob o socialismo, tem uma população que desconhece o que é respeito aos Direitos e Liberdades Civis - algo que tínhamos em abundância na minha infância e adolescência, e que agora sequer é buscado. 

Temos já uma geração inteira que acredita piamente que devido ao risco de ser preso durante o legítimo exercício de um Direito, a melhor opção é não exercer tal Direito. Acreditam piamente que devido ao risco de enfrentar uma prisão e processo mesmo a lei dizendo que não existe crime, a melhor opção é não viver a liberdade. 

Assisto isto, e o que vejo é o equivalente a se culpar os judeus pelo holocausto. Apenas lamento a opção pelo comodismo e pelo acovardamento. 

Não é assim que povos e nações foram construídos.