Muita
gente já ouviu a frase de Shakespeare, “Ser ou não ser”. Na
verdade, trata-se de uma tradução muito pobre, de vez que o
escritor disse, em sua língua, “To be or not to be” - o que é
muito mais abrangente, podendo ser interpretado até mesmo de forma
ambígua.
Na língua
inglesa não se lê esta frase com a precisão imposta e forçada na
tradução tradicional, que poderia se referir a “estar ou não
estar”, só para se mencionar um exemplo. Sim, a precisão da
língua portuguesa tira um pouco da magia e do mistério da famosa
frase.
Mas é
muito interessante se analisar a diferença do ser e do estar. Eu
vejo com frequência pessoas atribuindo-se qualidades permanentes,
dizendo “sou palmeirense”, “sou corinthiano”, e os exemplos
tendem ao infinito.
O conceito
de SER é bem mais profundo do que torcer para um time de futebol,
uma escola de samba, ou ter determinada preferência – até certo
ponto, onde suas decisões passam a efetivamente moldar o seu SER.
Por
exemplo, uma criança que pega o brinquedo atraente de outra, e toma
como seu, o faz como pura reação imediata ao seu desejo, sem o peso
da moral e da ética. Isso não afetou o seu ser. Uma vez que a mesma
criança venha a compreender que alguém levantou de madrugada,
trabalhou para pagar aquela coisa, e ainda assim toma aquela coisa
menosprezando o prejuízo que está gerando a outrem, neste ponto já
ocorreu uma inversão – nasceu um ladrão. Todas as teorias
socialistas nascem desta pequena, porém grave distorção da
realidade.
Nunca
dizemos “fulano está ladrão” - afirmamos que ele É ladrão. É
algo que se incorporou ao seu SER.
Até mesmo
as questões profissionais são relativas – há diferença muito
grande entre se dizer que alguém está advogando, e que ele é
advogado. Estar advogando pode ser uma condição profissional
temporária, ou uma condição ilegítima. Ser advogado, por outro
lado, pode significar que a pessoa é regularmente inscrito na ordem
dos advogados, mas, complementarmente, pode significar que exerce a
advocacia como sua profissão. E esta é a uma situação tão comum,
que ao se perguntar com o que alguém trabalha, podemos até
perguntar fulano é o quê? - advogado. Atribuímos a profissão como
um elemento do ser.
Quando
dizemos que alguém é filho da puta, na maioria das vezes trata-se
apenas de um termo ofensivo, um xingamento. Por vezes se diz que
fulano está sendo filho da puta, ou seja, está se comportando como
alguém cujos atos detestamos.
Filho da
puta é um termo bíblico, que chegou às nossas mãos traduzido por
beatos. Veja em Isaías 57:3. Se você mencionar alguém naqueles
termos, a pessoa nem saberá que está sendo xingado. O termo filho
da puta pode também se referir ao 5o mandamento - “honra
teu pai e tua mãe. Sim, o verdadeiro filho da puta age como se
tivesse sido educado não no seio de uma família, mas sim pelos
clientes de um prostíbulo. Conheço muitos filhos da puta que tem
mães honestíssimas, mas que com seu agir desonram a sua mãe – o
xingamento é mera consequência.
Mas que é
que determina que determinada característica se incorpore ao nosso
ser? Cada um de nós, individualmente, escolhe o que é. Está bem na
raiz de nossas escolhas mais primárias determinar o que somos. Os
nossos atos são apenas reflexos, exteriorizações daquilo que
somos, do que escolhemos ser. Como se diz, um copo só transborda
daquilo que está cheio.
Então, da
próxima vez em que alguém o xingar de filho da puta (espero que
isso não aconteça), ao invés de você ficar zangado com a pessoa,
e acusá-la de estar ofendendo a sua mãe, faça o contrário:
repense a sua vida, altere o seu ser, e desculpe-se com a sua mãe,
porque VOCÊ a desonrou com os seus atos.
Se o 5o
mandamento tivesse sido escrito por mim, o texto seria mais ou menos
assim: “Não seja filho da puta, senão você irá perder os dentes
da sua boca”.
Já que o
assunto mudou de “ser” para “filho da puta”, pensei em
algumas amizades.
Veja o
caso do amigo filho da puta - esse na verdade não é nem nunca foi
amigo – não saberia sê-lo. A amigo filho da puta é um tipo
especial de inimigo, o pior de todos, aquele que se aproxima de ti
exclusivamente para usufruir de vantagens, mas uma vez que não as
consiga, se manifesta fortemente contra ti. Peço desculpas, não
poderia chamar alguém assim de “amigo filho da puta”. Ele é
apenas um filho da puta, nada além disso.
O
verdadeiro amigo (desculpe novamente, não existe amigo falso, o nome
disso é filho da puta) te ombreia e assume as suas brigas, MESMO
AQUELAS EM QUE VOCÊ ESTIVER ERRADO. A seguir, ele vai te dar uma
bronca desgraçada, te encher de porrada e mostrar que você estava
errado. Mas só depois da encrenca resolvida. O amigo bate com você,
e apanha com você.
Ninguém
vai jamais conseguir falar mal de ti para um amigo – uma coisa
praticamente em extinção chamada HONRA vai impedir o seu amigo de
estar presente no mesmo lugar onde se está falando mal de ti. E se
por decorrências físicas o seu amigo estiver presente onde você
for ofendido, ele o defenderá – mesmo que ele ache que a ofensa
tem fundamentos, situação em que discutirá o assunto em particular
contigo.
O amigo é
aquela pessoa que ficará ao seu lado, vai dar e tomar tiros, vai te
proteger até com sua própria vida – e se algum dia descobrir que
você é um filho da puta, simplesmente te esquecerá sem se
arrepender de ter lhe dado amizade, porque ele foi sincero na
amizade. O amigo VIVE a amizade, e se você não honrar esta amizade,
o prejuízo é exclusivamente seu.
O tipo
mais comum de filho da puta, é o frustrado. O bosta. O zé ninguém
que já tentou fazer aquilo que você está fazendo, e fracassou
reiteradas vezes – justamente por ser um filho da puta.
O
frustrado irá perseguir sua vítima com força, vigor e
determinação. Será um autêntico filho da puta durante cada
milésimo de segundo, em cada célula do seu corpo, até o seu último
fôlego. O frustrado é tão aparente quanto a quebra da Petrobrás,
e sua principal característica é buscar, por todos os meios
possíveis e imagináveis, praticar crimes contra a honra objetiva do
seu alvo. Ele só alcança sucesso entre pessoas medíocres,
sugestionáveis, que adoram e por isso aceitam ouvir fofocas –
outro tipo especial de filho da puta.
Sim, o
frustrado é incapaz de construir algo, já tem esta certeza, e agora
se especializou em se utilizar de pessoas de mente fraca para
disseminar mentiras e falácias a qualquer custo, com o objetivo de
DESTRUIR algo semelhante ao que tinha vontade de construir, mas, por
absoluta incompetência, sabe que jamais o fará.
Não seja
um filho da puta. Força e honra.