sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Somos escravos das leis da ciência

O mundo está falecendo por falta de conhecimento comum, mas, principalmente pelo fato de há séculos termos soterrado o pensamento original.

Às pessoas foi ensinado conteúdo, mas não pensamento. As pessoas, mesmo no nível superior, decoram pensamentos de terceiro e aplicam sem, no entanto, terem aprendido como desenvolver a ideia original. E o pior: As pessoas, mesmo algumas que se indignam com isto ou aquilo, não tem capacidade, ou antes não sabem desenvolver raciocínios lógicos, nem mesmo os mais simples.

Assim vemos, para mencionar a área do Direito, pessoas que pegam modelos de petições para trabalhar em suas causas, e outros que, mais diligentes, ainda colhem partes de textos de doutrinas e jurisprudências conexas ao fato. Quando realmente existe a conexão lógica, já é algo muito bom - cansei de ver textos jurídicos onde não havia ligação entre o que se pretendia provar, e o material utilizado na petição.

E o problema se arrasta até níveis onde a qualificação dos operadores não deveria permitir que isto acontecesse, engessando o pensamento jurídico, gerando como consequência decisões se baseando em decisões passadas, muitas até prolatadas em um contexto de leis que já foram alteradas - a lei se altera, mas continua se julgando a matéria como se nada houvesse sido mudado. E a desculpa, quase sempre, é que os tribunais superiores ainda não se manifestaram a respeito - assume-se que se pensa com o cérebro dos outros. Os juízes que assim agem são discípulos das Greias, que compartilhavam um único olho entre si. Ou pior, porque nada impedia de as Greias terem sua própria opinião no momento em que utilizavam o olho comum.

A civilização ocidental passou pelo obscurantismo, onde o conhecimento era quase um sinônimo de pecado, e floresceu no iluminismo, onde o pensamento científico tomou importância. A seguir, vieram gerações de não-pensantes, que tendo recebido os pensamentos originais, os tiveram como leis absolutas, e se bastaram apenas e tão somente a recebê-los. A nossa ciência, hoje, está tão fundada nos pensamentos originais, que qualquer pensamento novo e original é apenas considerado errado, sem questionamento. E para garantir que algo é certo, justifica-se com os escritos de fulano, beltrano e cicrano - pronto, temos uma tese inatacável.

Há alguns anos escrevi, e algum tempo publiquei, aqui mesmo neste blog, sobre minha ideias a respeito de inconsistência na Teoria Geral da Gravidade. Existem modelos matemáticos complexos, todos eles escritos sempre tendo como base a teoria original. Ninguém aceitaria modificar o pensamento original, porque isto implicaria se perder um século de estudos – mas ninguém vê que se sepultarmos os novos pensamentos originais, seremos eternamente escravos dos séculos passados. Seremos a mais adiantada civilização que tenta fazer coisas novas com os pensamentos antigos.

Neste ponto me vem à cabeça a questão dos dogmas religiosos. Mas o cientista tradicional é tão dogmático quanto qualquer religioso. E ambos trabalham da mesma forma – se tentam inovar, é sempre sobre uma base imutável.

Observo um filósofo da Grécia antiga, um matemático do Egito antigo, um jurista romano; será que estes homens eram mais inteligentes do que o somos hoje? Sim e não. Sim, porque estavam em um ambiente que lhes permitiu o pensamento original, e, assim, puderam desenvolver coisas novas. E não, pelo fato de hoje termos homens e mulheres tão ou mais inteligentes do que naquela época. O único problema, é que os pensadores atuais podem fazer tudo, desde que não questionem o pensamento antigo. Assim, como foi dito que MASSA ATRAI MASSA, e se eu soltar uma pedra (que tem massa) e ela vai cair no chão (que tem massa), então eu posso fazer o que eu quiser, mas não tenho o direito de questionar o fato de massa atrair massa. Se o fizer, serei imediatamente ridicularizado, considerado um louco ou idiota – quando na verdade, estou apenas pretendendo discutir o pensamento original.

Esta é a nossa marca, a característica intrínseca da nossa era – no futuro seremos lembrados por termos desenvolvido tecnologias surpreendentes, como nos chips de silício, ao mesmo tempo em que seremos lembrados como a era da imbecilidade e da incapacidade de discutirmos e criarmos o pensamento original.

Mas ao analisarmos a nossa mais alta tecnologia, veremos que ela não cria nada novo, absolutamente nada – o mais avançado dos computadores, só consegue fazer um volume maior de trabalho em menos tempos, mas depende integralmente do pensamento de homens que há muito não permitem que o conhecimento humano original seja rediscutido, para que assim tenhamos o nosso próximo salto científico.


Porque hoje já sabemos praticamente tudo o que podemos saber sobre o mundo ao nosso redor, analisando-o pelo ponto de vista que temos hoje. Então, para sabermos mais, precisamos parar, desconstruir o pensamento original, refazê-lo sob o maior número possível de hipóteses, e começar a estudar tudo como os primeiros de nossos ancestrais o fizeram. 
  

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