quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

O Ser e o Estar

Muita gente já ouviu a frase de Shakespeare, “Ser ou não ser”. Na verdade, trata-se de uma tradução muito pobre, de vez que o escritor disse, em sua língua, “To be or not to be” - o que é muito mais abrangente, podendo ser interpretado até mesmo de forma ambígua.

Na língua inglesa não se lê esta frase com a precisão imposta e forçada na tradução tradicional, que poderia se referir a “estar ou não estar”, só para se mencionar um exemplo. Sim, a precisão da língua portuguesa tira um pouco da magia e do mistério da famosa frase.

Mas é muito interessante se analisar a diferença do ser e do estar. Eu vejo com frequência pessoas atribuindo-se qualidades permanentes, dizendo “sou palmeirense”, “sou corinthiano”, e os exemplos tendem ao infinito.

O conceito de SER é bem mais profundo do que torcer para um time de futebol, uma escola de samba, ou ter determinada preferência – até certo ponto, onde suas decisões passam a efetivamente moldar o seu SER.

Por exemplo, uma criança que pega o brinquedo atraente de outra, e toma como seu, o faz como pura reação imediata ao seu desejo, sem o peso da moral e da ética. Isso não afetou o seu ser. Uma vez que a mesma criança venha a compreender que alguém levantou de madrugada, trabalhou para pagar aquela coisa, e ainda assim toma aquela coisa menosprezando o prejuízo que está gerando a outrem, neste ponto já ocorreu uma inversão – nasceu um ladrão. Todas as teorias socialistas nascem desta pequena, porém grave distorção da realidade.

Nunca dizemos “fulano está ladrão” - afirmamos que ele É ladrão. É algo que se incorporou ao seu SER.

Até mesmo as questões profissionais são relativas – há diferença muito grande entre se dizer que alguém está advogando, e que ele é advogado. Estar advogando pode ser uma condição profissional temporária, ou uma condição ilegítima. Ser advogado, por outro lado, pode significar que a pessoa é regularmente inscrito na ordem dos advogados, mas, complementarmente, pode significar que exerce a advocacia como sua profissão. E esta é a uma situação tão comum, que ao se perguntar com o que alguém trabalha, podemos até perguntar fulano é o quê? - advogado. Atribuímos a profissão como um elemento do ser.

Quando dizemos que alguém é filho da puta, na maioria das vezes trata-se apenas de um termo ofensivo, um xingamento. Por vezes se diz que fulano está sendo filho da puta, ou seja, está se comportando como alguém cujos atos detestamos.

Filho da puta é um termo bíblico, que chegou às nossas mãos traduzido por beatos. Veja em Isaías 57:3. Se você mencionar alguém naqueles termos, a pessoa nem saberá que está sendo xingado. O termo filho da puta pode também se referir ao 5o mandamento - “honra teu pai e tua mãe. Sim, o verdadeiro filho da puta age como se tivesse sido educado não no seio de uma família, mas sim pelos clientes de um prostíbulo. Conheço muitos filhos da puta que tem mães honestíssimas, mas que com seu agir desonram a sua mãe – o xingamento é mera consequência.

Mas que é que determina que determinada característica se incorpore ao nosso ser? Cada um de nós, individualmente, escolhe o que é. Está bem na raiz de nossas escolhas mais primárias determinar o que somos. Os nossos atos são apenas reflexos, exteriorizações daquilo que somos, do que escolhemos ser. Como se diz, um copo só transborda daquilo que está cheio.

Então, da próxima vez em que alguém o xingar de filho da puta (espero que isso não aconteça), ao invés de você ficar zangado com a pessoa, e acusá-la de estar ofendendo a sua mãe, faça o contrário: repense a sua vida, altere o seu ser, e desculpe-se com a sua mãe, porque VOCÊ a desonrou com os seus atos.

Se o 5o mandamento tivesse sido escrito por mim, o texto seria mais ou menos assim: “Não seja filho da puta, senão você irá perder os dentes da sua boca”.

Já que o assunto mudou de “ser” para “filho da puta”, pensei em algumas amizades.

Veja o caso do amigo filho da puta - esse na verdade não é nem nunca foi amigo – não saberia sê-lo. A amigo filho da puta é um tipo especial de inimigo, o pior de todos, aquele que se aproxima de ti exclusivamente para usufruir de vantagens, mas uma vez que não as consiga, se manifesta fortemente contra ti. Peço desculpas, não poderia chamar alguém assim de “amigo filho da puta”. Ele é apenas um filho da puta, nada além disso.

O verdadeiro amigo (desculpe novamente, não existe amigo falso, o nome disso é filho da puta) te ombreia e assume as suas brigas, MESMO AQUELAS EM QUE VOCÊ ESTIVER ERRADO. A seguir, ele vai te dar uma bronca desgraçada, te encher de porrada e mostrar que você estava errado. Mas só depois da encrenca resolvida. O amigo bate com você, e apanha com você.

Ninguém vai jamais conseguir falar mal de ti para um amigo – uma coisa praticamente em extinção chamada HONRA vai impedir o seu amigo de estar presente no mesmo lugar onde se está falando mal de ti. E se por decorrências físicas o seu amigo estiver presente onde você for ofendido, ele o defenderá – mesmo que ele ache que a ofensa tem fundamentos, situação em que discutirá o assunto em particular contigo.

O amigo é aquela pessoa que ficará ao seu lado, vai dar e tomar tiros, vai te proteger até com sua própria vida – e se algum dia descobrir que você é um filho da puta, simplesmente te esquecerá sem se arrepender de ter lhe dado amizade, porque ele foi sincero na amizade. O amigo VIVE a amizade, e se você não honrar esta amizade, o prejuízo é exclusivamente seu.

O tipo mais comum de filho da puta, é o frustrado. O bosta. O zé ninguém que já tentou fazer aquilo que você está fazendo, e fracassou reiteradas vezes – justamente por ser um filho da puta.

O frustrado irá perseguir sua vítima com força, vigor e determinação. Será um autêntico filho da puta durante cada milésimo de segundo, em cada célula do seu corpo, até o seu último fôlego. O frustrado é tão aparente quanto a quebra da Petrobrás, e sua principal característica é buscar, por todos os meios possíveis e imagináveis, praticar crimes contra a honra objetiva do seu alvo. Ele só alcança sucesso entre pessoas medíocres, sugestionáveis, que adoram e por isso aceitam ouvir fofocas – outro tipo especial de filho da puta.

Sim, o frustrado é incapaz de construir algo, já tem esta certeza, e agora se especializou em se utilizar de pessoas de mente fraca para disseminar mentiras e falácias a qualquer custo, com o objetivo de DESTRUIR algo semelhante ao que tinha vontade de construir, mas, por absoluta incompetência, sabe que jamais o fará.


Não seja um filho da puta. Força e honra.