sábado, 31 de outubro de 2009

O que é a riqueza?

Quem terá sido mais rico, Adão ou Salomão?

Consta na Bíblia que a Adão foi dado o domínio sobre todo o planeta, sobre todos os seres vivos, então ele tinha disponível todas as riquezas tais como ouro, prata, bronze, ferro, todo o petróleo, resumindo, tudo o que se encontrava no globo terrestre. Só que estava tudo inexplorado, as riquezas estavam ocultas sob a superfície, ou não beneficiadas.

Salomão, por sua vez, tinha que compartilhar o planeta com uma grande população, e de fato, mesmo o seu reino já era bastante povoado. Assim, ele não dispunha de exclusividade sobre todas as coisas do planeta. Mas ele tinha muito ouro, prata, bronze, madeira excelente, marfim, cavalos, e utilizava isto diariamente na construção de palácios, templos, carros, armas, e toda espécie de coisa desejável da sua época. A Bíblia menciona que jamais houve antes ou depois de Salomão alguém tão rico quanto ele. Como explicar esta aparente incoerência? Simples: Somente o trabalho gera riqueza.

Vamos tomar como exemplo um homem que tenha um terreno de cinquenta mil reais, e mais cem mil reais em seu bolso. Pode se dizer que sua riqueza é de cento de cinquenta mil reais.

Ele não pode morar no terreno, e se usar o seu dinheiro disponível morando em um hotel, sua riqueza irá diminuir, apesar de seu dinheiro ter circulado, gerado serviços e empregos.

Agora, ao invés de gastar o seu dinheiro com hospedagem, o homem contrata engenheiro, arquiteto, pedreiros e serventes, compra todo o material de construção necessário, recolhe taxas e impostos, e tem uma casa construída sobre seu terreno. Todo o pessoal envolvido na construção recebeu salários e honorários, e por sua vez consumiram alimentos, roupas, ferramentas, bens de consumo, pagaram todos os impostos diretos e indiretos, e a economia girou. Os fornecedores de materiais de construção tiveram lucro, pagaram fornecedores e funcionários, recolheram todos os impostos diretos e indiretos, e a economia girou.

Mas para o homem de nosso exemplo, aconteceu algo curioso: A casa que ele construiu vale duzentos e cinquenta mil, ou seja, sua riqueza aumentou em 100 mil reais.

É assim que se cria e se distribui riquezas, a partir do trabalho.

Se o dono do terreno tivesse vendido o terreno, juntado o dinheiro com o que já tinha, e doado tudo aos pobres, estes, por não saberem lidar com dinheiro, iriam gastar todo o dinheiro com o seu sustento e talvez até com algum prazer efêmero e momentâneo, mas logo estariam sem dinheiro. Tanto o homem como os pobres estariam sem dinheiro, ou seja, apenas teríamos um pobre a mais.

É certo que Deus nos fez dependentes de água, ar e alimentos, todos nós precisamos continuamente de nossas cotas deste itens, senão morremos. Mas o homem deu dinheiro aos pobres, e assim que este dinheiro terminou, cessou o acesso aos itens necessários à sobrevivência, tanto para o homem, quanto para o pobre.

Já quando o homem deu trabalho, houve continuidade, ou seja, mesmo que a construção desta casa termine, o trabalhador pode começar a construir outra casa, e daí o seu sustento se perpetua. Quem dá alimento sacia a fome por um período de tempo, e tem que arcar com este custo. Quem dá trabalho torna este sustento perene, e gera riquezas.

Uma grande parcela da população não compreende esta verdade simples. Alguns, por revolta e por preguiça, resolvem assaltar os outros. Aquele que foi assaltado sai para trabalhar um dia após outro, buscando o sustento seu e de sua família; trabalha durante alguns anos e consegue comprar um carro. Já o vagabundo que não se submete ao trabalho, com o uso de uma arma leva, em segundos, o fruto de trabalho de anos do cidadão honesto e trabalhador. Outros ladrões, muito mais sofisticados, já retiraram, com o uso de força militar, força política, ou até mesmo pela edição de leis, o fruto do trabalho de populações inteiras, mas no fundo o princípio é o mesmo, é muito mais fácil roubar do que construir.

Em nosso país, para desgosto de alguns, o direito à propriedade ainda é protegido constitucionalmente, e esta proteção é relativamente respeitada.

Não devemos nos esquecer que aqueles que levantaram a maravilhosa bandeira da liberdade, igualdade e fraternidade, foram os mesmos que queimaram livros e bíblias em praça pública, enquanto guilhotinaram todos seus opositores. O autoritarismo que combatiam, apenas mudou de mãos, os pobres continuaram sendo pobres. Isto se deve ao fato de que não se constrói riquezas com ideias, mas somente com trabalho. Este o motivo pelo qual não acredito em ideologias, somente acredito em projetos que privilegiem a atividade produtiva. Ayrton Senna disse uma vez: “Não tenho ídolos. Tenho admiração por trabalho, dedicação e competência”.

Bom, o homem do exemplo acima construiu sua casa para morar. Outros constroem para vender, ou seja, para que outros morem. Neste último caso, a perpetuação da riqueza se estende, mas nasce a necessidade de que exista um consumidor.

O maior gênio industrial do século passado, Henri Ford, tinha uma visão muito clara a este respeito. Lee Iacoca, em sua autobiografia, explica que muitos dizem que a maior invenção de Ford foi a produção em série, mas que na verdade, sua maior invenção foi a classe média. Numa época em qua os automóveis eram construídos artesanalmente para a elite, como jóias, Ford fez em série um carro de qualidade inferior, o modelo “T”, e para isto contratou funcionários e pagou um salário para eles, de forma que este puderam adquirir os carros que eram fabricados por eles próprios. Na mesma fábrica existia o produto e o público consumidor. Ele entendia que o salário mantido em determinado nível induzia à demanda de seu próprio produto.

Na economia moderna, um recurso largamente utilizado para se combater a inflação é o encolhimento do salário real da população, o que força uma diminuição da demanda. Com isto a inflação diminui, mas junto se diminui toda a produção industrial, o que exclui uma camada da população, agora desempregada, do mercado de consumo. Ao mesmo tempo o governo se endivida para suprir a queda na arrecadação de impostos, tomando empréstimos na forma de títulos da dívida pública. A única forma de comercializar estes títulos é remunerar melhor do que o mercado, o que empurra os juros para cima. Se a remuneração diminui, ocorre fuga de capital. É certo que o fluxo de capital também envolve confiabilidade, e o Brasil esteve, por décadas, longe de ser um devedor confiável.

Com o salário real mantido em patamares mínimos, e com os juros altos, o comércio fica freado, a indústria faz seus planejamentos para um panorama sem expectativa de crescimento, e desvia o excedente de capital para o mercado financeiro ao invés de investir nas plantas industriais. Aqueles que acumularam capital, por outro lado, tiveram o governo como seu cliente fiel durante muitos anos, e não sabem emprestar nem para para a indústria nem para o consumidor, e quando o fazem, exigem juros dez vezes maiores do que o praticado em qualquer outro país. O dinheiro acaba ficando preso dentro de um jogo de apostas em ações, nas bolsas de valores, em atividade totalmente especulativa e sem quaisquer perspectivas de produção de riquezas (trabalho).


Os nossos economistas estão conseguindo destruir o capitalismo, pois tudo o que se faz é para se proteger o dinheiro (moeda), garantindo liquidez e lucratividade mesmo na ausência e trabalho e produção, ou seja, remunera-se a especulação pura e simples, motivo básico e fundamental da crise internacional de 2009.

As pessoas se esquecem que a moeda tem um valor fictício que lhe atribuímos voluntariamente. Saímos do escambo para uma economia de papel, passamos para o dinheiro virtual, o que possibilitou que títulos nas bolsas de valores tivessem valores astronômicos e absolutamente irreais, insustentáveis na prática.

Dizer que as ações da empresa ABC vale um dólar ou cinquenta dólares dá na mesma, até o momento em que realmente se descobre que aquele valor, meramente especulativo, jamais poderia ter equivalência nos bens da empresa, ou em seu volume de negócios. E quando os castelos de cartas que são as bolsas de valores caem por ação de algum megainvestidor, os pequenos investidores todos perdem fortunas teóricas que só existiam em suas mentes e corações (apesar de a maioria ter efetivamente pago, em dinheiro, por aqueles valores), enquanto os bancos de investimento que não emprestaram dinheiro para atividade produtiva real tem que ficar dando explicações complicadas em economês para seus clientes.

Ah, esqueci. A desculpa da crise foi a especulação imobiliária nos EUA. Um especulador comprava diversas casas a juros baixíssimos, sem comprovação de renda, para revender num momento de boom imobiliário que jamais aconteceu. Os especuladores não tiveram como pagar os financiamentos, os bancos não conseguiram executar as garantias, e disso veio uma crise mundial. Ora, deixasse que os bancos quebrassem.

Viram só o que conseguiram fazer? Conseguiram corromper de tal forma o trabalho, que o mesmo se tornou objeto de especulação financeira. Quem abre uma indústria, para crescer oferece ações na bolsa. E a partir de então, o valor da empresa passa a ser medido não pelo desempenho real da empresa (destarte Sarbanes Oxley), mas sim pela mera atividade especulativa nas bolsas de valores.

Ainda hoje, não é possível existir riqueza sem trabalho. Muitos têm dinheiro, mas não produzem nenhuma riqueza, mas dinheiro não se come. E todo aquele que ganha dinheiro sem produzir, está na realidade se utilizando do trabalho de outrem, da mesma forma que um ladrão o faz.

Prá que pensar...

PARE DE PENSAR


Pensar cansa, dá dor de cabeça, embaralha os neurônios, consome mais energia do que uma corrida, e enquanto você pensa, se desprende do mundo real à sua volta.

Prá que pensar? Pura besteira.

Você já tem o pessoal do governo, que faz as leis, coloca regulamentos, placas, sinalização, tudo para você não precisar pensar.

A própria sociedade, que já está aí há milhares de anos, já estabeleceu tudo o que você precisa para saber viver: Alguém tem ensinou a comer, beber, trabalhar, limpar a bunda, tudo. Você não precisa pensar, quando nasceu você já chegou em uma sociedade organizada com tudo pronto.

O que você vai fazer hoje?

Com certeza, você não precisa pensar a este respeito. Basta colocar o despertador, você vai acordar na hora certa, escovar os dentes, tomar o desjejum, pegar o trem lotado, e ir para o trabalho. Chegando lá, você também não precisa pensar. Alguém vai te ensinar o trabalho que você deve realizar por todos os momentos, dias, semanas, meses, anos seguidos.

Enquanto você tiver trabalhando, não pense. Isto iria desconcentrá-lo, o que pode representar um grande risco. Você pode por acidente perder um dedo, e ser condenado à presidência de alguma república ao sul do equador. Que tragédia então, ser um não-pensante reconhecido internacionalmente...

E o seu salário? Nem pense nisto. Você teria que explicar para o seu filho que o dinheiro não chegou ao final do mês, porque você é o vice-treco do sub-troço do ajudante do auxiliar. Se você pensar em dinheiro, vai acabar atravessando a rua e pegando um empréstimo, remediar seu problema imediato ao custo do comprometimento de parte do seu miserável salário por um grande período de tempo, ou seja, se até agora estava difícil lidar com a porcaria que você recebia, agora você vai ter que começar a viver com menos do que antes, com a diferença de que parte do seu miserável salário a partir de agora vai para alguém que pensa, e sabe lidar com dinheiro.

Apenas trabalhe, até que finalmente você realizará seu sonho: Se aposentar. Ufa! Receber sem trabalhar, isso é que é vida! Não pense em quanto você vai receber, porque isso já está pronto no pacote. E não faz muita diferença saber se o que você vai receber será suficiente, porque, afinal de contas, o que importa é a segurança de saber que o dinheiro estará lá, todos os meses, contadinho e certo. Depois disso você vai morrer, mas você não precisa pensar nisso, porque COM CERTEZA você vai morrer.

Bateu uma vontade imensa de pensar?

Bom, eu sei que isso não aconteceu no trabalho, porque todas as vezes que houve qualquer milionésimo de segundo disponível, alguém conseguiu arranjar mais um serviço para você fazer (o daquele seu ex-colega de trabalho, despedido porque vivia no mundo da lua).

No intervalo do café ou do almoço não aconteceu este acidente, porque ninguém pensa no intervalo. Na interação com outros não pensantes existe tanta fofoca, tanta merda a se falar, que o tempo é curto, só dá para engolir aquele mega-super-prato, preparado pela nutricionista da empresa, para que você tenha o melhor desempenho possível em sua atividade de não-pensar.

Ah, você é livre docente em física teórica, e este texto de não pensamento está sendo altamente ofensivo às décadas que você passou com a bunda enterrada nas cadeiras da escola? Não se iluda. Você é apenas um não pensante altamente especializado, tunelizado. Quer uma prova? Olhe seu holerith.

O verdadeiro pensante não é aquele que se limitou ao estudo do Direito, da Engenharia, da Matemática. O pensante vê a sociedade humana em sua essência, com o QI da massa sendo sempre inferior ao QI da maioria de seus indivíduos. Vê a sociedade como um formigueiro, cujas necessidades essenciais precisam ser atendidas, com certo nível de bem estar social, mas principalmente, com os indivíduos jamais sonhando além de um pequeno e limitado nível.

É o princípio do Panis et Circenses. Isso foi inventado por Decimus Junius Juvenalis, no Sec. II, para explicar, de forma cínica, o porque de se atirar cristãos aos leões.

O povo vai sempre continuar sendo povo, tanto faz se está morando em uma favela, em meio a esgoto a céu aberto e compartilhando espaço e alimentos com os ratos, ou se está morando em casas de alvenaria, pelas quais terão que pagar durante todos os seus anos de trabalho.

Mas se os não-pensantes, repentinamente tomassem consciência de seu ridículo papel de gado, por serem em grande número, facilmente eliminariam os pensantes.

A beleza é que é possível usar isso a favor dos pensantes, e de fato, já se fez isso mais de uma vez. Num momento alguém fez uma revolução burguesa, noutra uma revolução comunista. Um grupo de pensantes queria tomar o poder, mostrou para o povo sua situação miserável, usou o povo como massa de manobra, tomou o poder, e manteve o povo exatamente onde ele estava antes.

Os comunistas erraram ao imaginar um sistema onde simplesmente o capital fosse distribuído, porque a maioria das pessoas não consegue incrementar o capital, então a máxima distribuição de renda significa uma efetiva diminuição da massa de capital, porque apenas algumas pessoas sabem e efetivamente conseguem multiplicar o capital, mas estas, quando o fazem, podem fazê-lo de forma a gerar renda para os outros que não conseguem.

Mas, no final das contas, é o Panis et circensis e não a distribuição de renda a explicação para a revolução burguesa ter funcionado. O povo precisa ser controlado, e qualquer que conheça economia, sabe as limitações óbvias à distribuição de renda.

Panis, literalmente “pão”, era atirado aos cidadãos romanos no coliseu. Se o povo tem a quantia de alimento a que está acostumado, e principalmente, se tem a noção de que a estabilidade garante o seu sustento, então fica quietinho. Ao menos alguns.

Circenses, se refere à diversão. Atualmente não é prático se atirar cristãos para os leões, mas existe toda uma estrutura, que abrange a permissão do uso de drogas que são chamadas lícitas, o franqueamento à diversão das massas de forma ou gratuita ou muito acessível, chegando até à tolerância velada ao uso de algumas drogas ilícitas.

O futebol, onde toda semana os grandes times estão nas importantes finais de qualquer campeonato regional, estadual, nacional, internacional, cumpre um importante papel na diversão das massas. Basta haver um sinal de instabilidade econômica ou política, alguma grande crise institucional, e lá vai algum dos times mais populares para um jogo fundamental para o campeonato. Até as grandes tragédias cumprem papel importante, e se no momento exato faltar alguma tragédia natural, muito convenientemente alguns pilotos de camelo saem do meio do deserto e derrubam, num show de técnica e de engenharia, dois gigantescos edifícios no centro de New York (habemus leonis). Quem está olhando para os escombros e cadáveres pela televisão, por alguns poucos dias deixa de enxergar seus problemas pessoais, reais e imediatos.

Ah, temos a política! Política é uma coisa incrível, existe a política de quartel, e a de palco.

No quartel acontece o encontro e confronto de interesses, que sempre resultam em acordos, chamados democráticos. Quando todas as partes garantiram sua parte no bolo, anula-se qualquer possibilidade de questionamento.

No palco é onde acontece a parte que o povo enxerga. Às vezes alguma coisa escapa do quartel e chega no palco, mas tudo é apenas um grande show, e na imensa maioria das vezes consegue-se dar uma tremenda impressão de que tudo está se resolvendo de acordo com a lei e a ordem, de acordo com a ética e a moral. Quando não é possível se utilizar nenhum destes elevados padrões, dá-se uma canetada, a coisa desaparece da imprensa, e a partir de então, qualquer que seja a forma, a coisa toda adquire legitimidade inquestionável para todo o sempre, amém.

Tudo bem que é raro alguém mostrar no palco o esterco que se cultiva no quartel, mas acontece. Quando isto acontece, indefectivelmente o traidor é lançado para os leões (aqui, a maioria das pessoas é cristã, mesmo). Para se evitar que isso aconteça, a distribuição de renda dentro do quartel beira à perfeição, e a máquina bem lubrificada funciona muito bem.

Em um país sério (segundo Charles de Gaulle) tudo isso seria um problema, mas aqui a coisa se resolve facilmente, simplesmente permitindo-se o acesso dos revoltosos ao poder. Guerrilheiro e assaltante de banco um dia, ministro noutro. E assim a coisa vai. Deixo aqui de fazer qualquer consideração a respeito de traficantes de drogas e chefes de facções criminosas, porque estes também em breve podem ser governo, e se Aldous Huxley estiver certo, todos estaremos usando a droga perfeita, legalmente. Pelo menos esta é a sequência mais lógica para a coisa.

Ninguém viu que, em menos de uma geração, todas as esposas saíram de casa e foram trabalhar fora, que as crianças não estão sendo mais educadas pelos pais, e que apesar de agora termos duas pessoas e não apenas uma trabalhando pelo sustento da casa, o dinheiro ainda não é suficiente para as necessidades de antes.

Por tudo isso não precisamos pensar, basta comemorar o fato de que seremos a sede da Copa do Mundo de 2014, o Rio de Janeiro sediará as Olimpíadas de 2016 (assim que acabar, lá mesmo, a filmagem de Black Hawk Down II).

Dedico este pequeno texto a todos meus irmãos e patrícios não—pensantes.