quarta-feira, 7 de maio de 2008

NO CAMINHO COM MAIAKÓVSKI


Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na Segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas amanhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.

Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne a aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão

é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!

Poema de Eduardo Alves da Costa

domingo, 2 de março de 2008

Curso de Direito

Um dos cursos universitário mais concorridos atualmente é o de Direito.

Vejo a OAB se preocupando com o baixo nível de muitos cursos, que parecem terem sido abertos apenas para explorar comercialmente o mercado universitário, sim, apenas ganhar dinheiro, sem contudo prover toda a estrutura necessária para que um aluno SE TRANSFORME em um profissional de Direito.

Uma pena.

Para ser um Operador de Direito, não basta um diploma de bacharel. Vou além: de pouco ajuda apenas conseguir "passar" no exame da OAB, ou depois, passar em um concurso para algum cargo jurídico.

Penso, cá com meus botões, que nos primeiros dias em que um aluno ingressa em um Curso de Direito, deveria ser demonstrado para ele qual o peso que seus atos futuros, como profissional de Direito, terão na vida das pessoas. E desde o primeiro momento, deveria ser impresso em sua personalidade o PENSAR juridicamente.

Ah, não é de bom senso pressionar o aluno de primeiro ano... O jovem que, indeciso, na última hora escolheu "fazer direito", ou que tendo prestado diversos vestibulares, acabou passando justo nesse, se pressionado, vai simplesmente abandonar o curso. Mal para quem vive das mensalidades.

Quando eu cursava a Escola de Aviação Civil do Aeroclube de São Paulo, na década de 80, tivemos algumas palestras ministradas pelo pessoal do Ministério da Aeronáutica, versando sobre segurança de vôo. Com fotos, vídeos e depoimentos tomados de quem é sempre o primeiro a chegar em qualquer acidente aeronáutico,
demonstrou-se a importância de se seguir os critérios de segurança aeronáutica, e as conseqüências pelo descumprimento das regras básicas. Foi impressionante o esvaziamento da turma. Evidentemente, houve um grande prejuízo econômico, pois todos os alunos que abandonaram o curso naquele momento deixaram de gerar receitas para o aeroclube.

Mas duas coisas restaram daquela minha experiência: Sei que muitos daqueles que abandonaram o curso naquele momento realmente não podiam ser pilotos, porque pilotos são pessoas que tem que saber lidar com situações extremas. Mais ainda: Se ficassem, algumas daquelas pessoas poderiam ter causado acidentes, porque não estavam totalmente conscientes de todos os riscos envolvidos naquela atividade, nem estavam comprometidas com a assunção destes riscos.

Em medicina fica fácil imaginar quais são os riscos pelo desmazelo profissional. Um médico que não conhece o suficiente sua especialidade, ou que é displicente no diagnóstico ou tratamento de seu paciente, pode levá-lo a terríveis conseqüências, talvez até à morte.

No Direito não é diferente. Aqui também se lida com pessoas, com a vida das pessoas, com seus bens, com sua honra, com sua liberdade. O desmazelo de um profissional de Direito, qualquer um, pode levar ou uma pessoa ou a sociedade a prejuízos indizíveis. Prender um inocente pode destruir uma vida, soltar ou não prender um assassino contumáz irá colocar vidas inocentes em risco.

São pesos, são medidas, são situações e realidades que devem ser analisadas sob um sem fim de critérios, começando pelas regras constitucionais e pela legislação pertinente, mas passando pelo conhecimento, o quanto mais apurado possível, do espírito humano, com comportamento individual, e o fundamental, tudo isto sopesado de acordo com a experiência e vivência pessoal do operador de Direito.

Quer estudar Direito? Bom, muito bom.

Para se tornar um bacharel é fácil. Se faltar nas aulas, sempre dá para um colega assinar a lista; se não viu a matéria, sempre dá para dar uma "decorada" antes da prova, ou com um jeitinho, "colar" e conseguir nota.

Pois estes são os dois critérios básicos de aprovação: Presença e nota.

Até há algum tempo atrás, à estas facilidades se somava o fato de que alguns mecanismos permitiam que bacharéis em direito conseguissem sua carteira da OAB de forma quase automática. Agora parece que a coisa está sendo levada a sério, e muitos estão tendo que estudar para conseguir dar este passo.

Este é um avanço importante, contra o qual muita gente está se debatendo, como se fosse suficiente a qualificação de bacharel para se tornar um operador de Direito.

E se, para se tornar operador de Direito, fosse necessário um exame nos moldes a que os pilotos são submetidos? Quantos será que passariam no psicotécnico?

Mas não há psicotécnico para nenhuma carreira de Direito.

Para uma carreira que lida com psicologia e filosofia em toda a sua profundidade, não há psicotécnico.

Que não haja, então. Fiquemos apenas com o critério técnico-formal para a habilitação
do profissional de Direito.


Na falta de outro critério, resta conhecermos o profissional de Direito pela sua produção, ou seja, temos que considerar o profissional recém-formado como um completo neófito, e esperar os seus resultados a fim de que possamos, em alguns anos, considerá-lo de acordo com estes resultados.

Mas fica a minha observação de que, se fosse demonstrado de maneira mais clara e uniforme aos iniciantes no curso de Direito quais os limites de sua atuação, e qual o peso que o exercício de seu munus terá sobre os cidadãos que dependerem de seus serviços, poderemos, ab initio, dar a opção àqueles que sucumbiriam ao peso de tais responsabilidades, aprimorando, por outro lado, o senso moral e ético daqueles que se resignam a enfrentar as vicissitudes da humanidade, em busca do pleno exercício da urbanidade e da cidadania.